Segundo o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar: 2007. Rev Med Minas Gerais
ALERGIA ALIMENTAR
Conceito:
Entidade clínica resultante de reações imunológicas após a ingestão de proteínas de alimentos, em indivíduos previamente sensibilizados.
Ocorre em torno de 8% das crianças.
Causas
Os alimentos responsáveis por 90% dos casos são leite de vaca, ovo, trigo, soja e pescados.
A maioria das reações ocorre devido à sensibilidade a apenas um ou dois alimentos.
Pacientes portadores de alergia a três ou mais alimentos diferentes são muito raros.
Lembrar que a lactose, por ser um carboidrato, não provoca alergia e sim intolerância, por deficiência da enzima de b–lactase.
O número de aditivos alimentares (incluídos os corantes) implicados em reações alérgicas é muito pequeno.
Manifestações Clínicas
Três tipos de reações
Mediadas por IgE ou imediatas, que ocorrem dentro de minutos até 2 horas após a ingestão do alimento.
Urticária e angioedema agudos
Hipersensibilidade gastrointestinal imediata
Síndrome oral alérgica
Anafilaxia generalizada
Não-mediadas por IgE ou tardias, que surgem horas após o contato como o alimento.
Doença celíaca
Enteropatia induzida por proteína
Dermatite herpetiforme
O terceiro grupo tem características de ambas, imediata e tardia.
Dermatite atópica
Esofagite, gastrite e enterocolite eosinofílicas alérgicas
Descrição das manifestações clínicas:
As manifestações cutâneas e gastrointestinais são as mais freqüentes.
Síndrome oral alérgica: de início rápido, com prurido e desconforto nos lábios, língua e orofaringe, podendo haver sensação de aperto na garganta e angioedema.
Vômitos de início súbito, bem como diarréia e dor abdominal.
Anafilaxia sistêmica, com hipotensão, disritmia cardíaca e comprometimento respiratório.
Anafilaxia associada ao exercício ocorre com a realização de exercício físico 2 a 4 horas após a ingestão do alimento. Durante o repouso, o mesmo alimento não causa sintoma algum.
Asma é extremamente rara, como manifestação isolada de alergia alimentar. Geralmente, acompanha sintomas cutâneos e gastrointestinais de alergia alimentar.
Inúmeras pesquisas já foram publicadas tentando associar otite média recorrente ou sintomas nasais crônicos com a sensibilidade a alimentos. Entretanto, ainda não dispomos de trabalhos de qualidade que dêem sustentação para esta associação.
Cólica do lactente
Afeta 40% dos lactentes, mas apenas 5% com etiologia determinada.
Refluxo gastroesofágico: parece existir relação com alergia a alguns alimentos.
Enteropatia induzida pelo leite de vaca
Vômitos, diarréia, malabsorção e falha no ganho pondo-estatural.
Proctocolite alérgica
Diarréia leve e sangramento retal, em paciente com boa aparência.
Afeta lactentes exclusivamente amamentados ou em uso de fórmulas lácteas. Pode surgir nos primeiros dias de vida.
Constipação: há controvérsia se é uma manifestação da alergia ao leite de vaca.
Diagnóstico
HISTÓRIA CLÍNICA
Tem baixo poder de resolução diagnóstica.
Há que se questionar:
Qual alimento é suspeito de provocar a reação.
Qual o volume ingerido.
Intervalo entre a ingestão e o surgimento dos sintomas.
Os sintomas ocorrem sempre que o alimento é ingerido.
Descrição de sintomas compatíveis com as manifestações descritas acima.
EXAME FÍSICO
Útil para caracterizar as manifestações tipicamente alérgicas.
TESTE CUTÂNEO IMEDIATO
Deve ser realizado por alergista, apenas com os alimentos suspeitos.
Painéis de testes com inúmeros alimentos não devem ser realizados.
Sozinho não confirma o diagnóstico. Apenas detecta a presença de anticorpos IgE específicos para o alimento testado.
TESTES CUTÂNEOS DE CONTATO, COM ALIMENTOS
Parecem testar as reações tardias. Necessitamos de mais estudos controlados utilizando este método.
TESTES IN VITRO
RAST para IgE específica para alimentos
Apenas demonstra se o paciente tem IgE específica para determinado alimento.
Painéis de testes para inúmeros alimentos não devem ser realizados.
DIETA DE EXCLUSÃO
Deve ser realizada com número limitado de alimentos (1 a 3), de acordo com a história clínica.
Se os sintomas desaparecem com a exclusão do alimento, o teste de provocação oral deve ser feito para confirmar o diagnóstico.
Crianças não devem ser submetidas a dietas de exclusão prolongadas, sem provocação oral que determine, definitivamente, se as manifestações clínicas são provocadas pelo alimento excluído.
Para crianças exclusivamente alimentadas com leite materno, a mãe deve submeter-se à dieta de exclusão, visto que pode haver passagem de alérgenos através do seu leite.
Abordagem prática para lactentes com história de reação adversa a alimentos
1.Dieta de exclusão para eliminar os sintomas.
2.Reintroduzir o alimento para verificar se os sintomas são reproduzidos.
3.Se os sintomas reaparecem, excluir o alimento por 1 a 3 meses.
4.Após este intervalo, oferecer o alimento novamente, para ver se os sintomas ressurgem.
5.Se os sintomas surgem novamente, suspender o alimento da dieta e encaminhar o paciente para o alergista.
ENDOSCOPIA E BIÓPSIA
São úteis para os fenômenos não mediados por IgE.
TESTES DE PROVOCAÇÃO ORAL
São os únicos meios de comprovação diagnóstica.
Também são úteis para constatar se o paciente já se tornou tolerante ao alimento.
São contraindicados quando há história recente de reação anafilática grave.
Tratamento e prevenção
A única forma eficaz de tratamento de alergia alimentar é excluir totalmente da dieta do paciente o alimento identificado.
Não se aplicam vacinas orais para tratamento de alergia alimentar, até este momento.
Fórmulas lácteas altamente hidrolisadas podem substituir o leite de vaca.
A proteína de soja é frequentemente utilizada como substituta do leite de vaca. Não há reação cruzada com o leite de vaca, pois suas proteínas são completamente diferentes.
Fórmulas hipoalergênicas (HA) não são não-alergênicas, sendo passíveis de provocar reação em indivíduos sensibilizados.
Noventa por cento dos pacientes alérgicos ao leite de vaca toleram muito bem a carne bovina.
A hipersensibilidade alimentar pode desaparecer com o tempo, mesmo nos casos de reações graves. Deve-se reintroduzir o alimento a cada 6 a 12 meses de dieta de exclusão, para verificar se já se desenvolveu tolerância.
Cuidado! Dietas de exclusão múltiplas e prolongadas podem acarretar problemas nutricionais sérios.
Crianças com histórico de anafilaxia devem ter epinefrina auto-injetável sempre à disposição.
Antihistamínicos são úteis apenas para diminuir o prurido. Eles não são capazes de impedir alergia a um alimento.
Ainda não dispomos de pesquisas avaliando o risco dos alimentos geneticamente modificados (transgênicos).
Quando encaminhar para o alergista pediatra
Quando houver falha no tratamento instituído.
Quando houver história de anafilaxia ou internação.
Quando houver necessidade de testes alérgicos, para esclarecimento diagnóstico e orientação.
FONTE: http://www.sbp.com.br/show_item2.cfm?id_categoria=89&id_detalhe=3012&tipo_detalhe=s
Muito interessante e esclarecedor esse post... Obrigada ;)
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